O dia dos pais começou chuvoso.
Se você gosta de dormir quando está na praia, imagine acordar com a luz da manhã entrando pela janela e o barulho da água da chuva que cai sobre as árvores. Pena estar sozinho.
A manhã teve um mate me fazendo companhia enquanto observava, da sacada do meu estúdio, algumas pessoas surfando no canto sul.
Só fui para a água de tarde. Peguei o Rosa Norte sem mais ninguém por quase uma hora, até que apareceu outro surfista. O vento virou para nordeste e o balanço aumentou, mas meus dias de cidade já me avisavam que era hora de sair. Peguei carona numa esquerda que me levou até a beira.
Chegando no estúdio, fiz um lanche e cochilei.
Quando acordei, a noite já começava a tomar conta da paisagem. E com ela, seus sons e suas bestas. Não, não é ninguém que você conheça. Meu long secava na sacada e quando fui buscá-lo, senti um rasante sobre minha cabeça. Imaginei se tratar de um dos muitos pássaros que habitam a Mata Atlântica e que eu já havia observado durante o dia. Peguei o long e pude ver o vulto fazendo uma curva no ar, a uns 5mts de mim, e investindo de novo. Passou perto. Vi que era comigo. Ao fazer mais uma vez a curva, e tentar pousar numa árvore, percebi. Normalmente, pássaros não se penduram de ponta cabeça. Larguei tudo e corri para dentro. Fechei a janela de vidro e pude ver dois morcegos voando em círculos passando a um metro e meio de altura da sacada. Eles deviam ter uns 30 cm de asas abertas. E pareciam furiosos. Esperei um pouco e voltei para buscar a roupa molhada. E outro ataque, desta vez ainda mais feroz. Gritei com eles, para mostrar que eu era o rei desta selva. Foi como se tivesse me abanado. Mais um círculo, enquanto encolhia minha cabeça e corria em direção ao long, e pude ver sua boca aberta, provavelmente emitindo o som em alta frequência que faz parte do seu sistema de orientação. Consegui voltar para dentro a salvo, com o meu long que seca no banheiro agora.
Agora, a noite já não me permite ver mais nada lá fora.
Um comentário:
nossa mano, sinistrão
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