segunda-feira, 13 de maio de 2013

Voltar (The Müller Shire)

Moro em Porto Alegre há 16 anos.
Com a vinda dos meus pais para a Capital, fazia pelo menos dez que eu não entrava na casa onde passei a maior parte da minha vida. Fiz isso hoje.
Ninguém mora lá há mais de dez anos e ela está como deveria estar... mas continua grande e cheia de memórias.

Meu pai construiu aquela casa trabalhando. Escolheu o terreno de esquina no "Alto da Eira", nos limites da região central e o bairro Nossa Senhora das Dores, e aos poucos aquilo foi se transformando no nosso pequeno Condado. The Müller Shire.
O reino do meu velho construído com a abnegação do trabalhador incansável que ele sempre foi.

Minha história toda ali. E ainda lembro da primeira noite, há 33 anos.
Me emocionei ao recordar os Gre-nais de futebol de botão no chão do quarto, que se transformava num Beira-Rio lotado, com narração e torcida...
Tudo continua ali... o mesmo parquê, o mesmo quarto, e eu também, o mesmo guri.
Andei pela casa como um fantasma visita o mundo dos vivos...
Lembrei das tardes de futebol com o meu pai...
Eu corria atrás e o velho só ria... Não conseguia pegar a bola nunca.
Mas nunca desisti. Mais tarde, essa persistência passou a ir a campo comigo, e apesar da qualidade limitada, sempre fui um jogador raçudo.

Liguei para ele e chorei.
Com saudade de ouvir a voz dele falando comigo lá dentro. Me ensinando.
E ao mesmo tempo uma gratidão imensa.
Aí eu vejo que ainda vou a campo, e que a cada dia que passa tenho mais a aprender.
Mas tenho a certeza de que o principal a vida me ensinou naqueles momentos, enquanto eu corria atrás das pernas do meu pai.

Obrigado, velho.
Tu é o cara.

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